segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ESCULTORA

Amassando o barro
Me entrego. Sou leve,
Sou levada... danço!
Dando forma,
Modelando o barro
Me transformo,
Me transponho...
Tudo conspira!
É o imaginário,
O mundo da fantasia,
Da beleza,
Do devaneio...
Neste processo
Construo meu caminho.

sábado, 20 de novembro de 2010

PESADELO DO MEDO

Não era um homem,
Era frangalho humano.
Como se rastejasse
Implorava e apelava
Por carinho, por ternura,
Aos pés do carrasco
Que lhe fazia tortura.
Medo descomunal!
Não tinha estatura,
Era traste em agonia
Medo do quê não dizia
A mente corroída intuía.
Os papéis se invertiam
O demônio virara anjo
E o anjo se descobria
Um demônio, não sabia!
Do sonho guardado
O pesadelo do medo.

domingo, 14 de novembro de 2010

ENTONCES, OBRIGADA MEU PAI!

Entonces penso nele
Era como ele dizia:
“Entonces...”
Eu respondia: “não é entonces”
Ele entonces me repreendia:
“Ora, voce não venha
Querer me ensinar a falar
Só porque lhe pus a estudar”.
Alguns anos depois o castigo:
Filhos de mim também riam
Pois de inglês eu nada sabia
(E continuo nada sabendo).
Entonces ele tinha razão,
A palavra existia,
Só muito tarde eu descobriria.
Agora entonces me vejo
Preocupada com política
Que ele me pôs no sangue
E também me obrigando
Desde cedo em jornais ler
Do que nada eu entendia.
Semi analfabeto ele era
Mas com calma me explicava
Pois de política entendia.
Entonces meu pai hoje vejo
Foi você! Com você!
Descobri o que é ser cidadã.
Nunca o vi a ninguém bajular
Mas muitos eu vi a lhe procurar.
Por nada o vi perder a dignidade
Nem a cabeça abaixar.
O vi enfrentando baderneiros
Dizendo: “o carro pode levar
Mas eu vou sair daqui
E ninguém vai me tocar”.
Falou forte e sem medo
A um grupo que o ameaçou,
No dia de uma greve,
Porque estava indo trabalhar.
Depois me disse:
“Estão brigando com razão”
Entonces não entendi nada não.
Compadres pra mais de cem
E quem com ele trabalhou
Amigo pra sempre ficou,
Em seu velório até chorou.
Adorava suas raízes,
E, quando muito doente,
Nos pediu que o levasse
De volta de onde partira
Para sua terra rever.
A notícia se espalhara,
Surpreendendo a nós todos,
Na igreja gente chegando
Para com ele falar.
Um neto de pouca idade
Entonces exclamou:
"É muito importante o vovô!"

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

TAPETE DE FOLHAS

Folhas secas, outras murchas,
Estalando sob pés descalços
Da criança que alegre e feliz
Catava ouriços de castanhas.
Momentos longínquos...
Revi a garota na floresta amazônica
Entre caboclos, fornos de farinha
E tachos de mel de cana.
Cobras, aranhas e outras peçonhas
Naquele tapete de folhas inexistia
E, hoje, só de pensar me arrepia.
O cheiro do mato ainda paira no ar,
Na retina, das folhas secas, os tons.
Espalhadas ao chão folhas murchas
Umedeciam os pés da menina.
Não parecia dia, nem noite era.
No alto, entre copas das arvores,
Réstia da luz do sol brilhava.
Nítidas, como se fosse ontem,
Me vêm à lembrança as imagens...
Infância vivida em plenitude
Sobre o tapete da natureza
Feito de folhas e liberdade.